O teatro Barracão do Paraná para uma praça em São Paulo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de março de 1990
Anuncia-se quatro super-teatros para São Paulo mas é possível que um dos próximos espaços a serem abertos naquela capital seja de proporções mais modestas e, pasmem!, bancado pelo governo do Paraná.
Será o projeto Barracão chegando a paulicéia desvairada, com um teatro prático, simpático, construído em madeira, painéis de Poty Lazarotto e Vicente Jair Mendes e beneficiando um dos bairros de maior agito cultural - Pinheiros, onde, no início dos anos 80, o Lira Paulistano, marcou época.
Pode até parecer um delírio cultural paranista em conquista de espaços paulistas, mas tem muito para dar certo.
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Tudo começou há alguns meses, quando após assistir a encenação de uma ópera no Teatro Municipal, o advogado Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra, foi jantar com a secretária Marilena Chauí, da Cultura, e seu assessor Edelcio Mostaço, crítico teatral.
Viaro falou sobre o projeto Barracão, a boa aceitação que a econômica fórmula de oferecer novos espaços culturais vinha encontrando no Paraná - após a experiência piloto em Maringá - e surgiu a idéia.
- Se o município oferecesse um espaço, o Estado do Paraná poderia estudar a implantação de um teatro Barracão na capital paulista. Afinal, seria uma forma de se abrir um espaço para que os nosso artistas pudessem ter um pé no principal mercado artístico, já que nas temporadas paulistas de "Galileu" de Brecht a "Noite na Taverna", de Alvarez de Azevedo, produções do TCP, sentiu-se a falta de se dispor de um teatro com maior número de datas disponíveis. Há dois anos, em sua audácia artística, e sempre lembrado José Maria Santos, arrendou um teatro no bairro do Bexiga, onde além de apresentar "Zé Maria procura Sarney para se coçar", ainda possibilitou que seu discípulo, Edson Bueno, levasse sua peça "Um Rato em Família" para teste junto a platéia paulista. A existência de um espaço cultural, aberto prioritariamente não só aos artistas e companhias do Paraná mas de outros Estados, pode funcionar, por que não? Sem contar que ociosidade não existirá: haverá sempre dezenas de grupos - teatro, música, dança etc. - interessados em ocupar suas datas.
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Marilena Chauí e, especialmente, Edelcio Mostaço, se interessaram pela idéia - levantada sem qualquer compromisso. E poucas semanas depois, Viaro recebia uma consulta formal sobre a possibilidade do projeto ser detalhado. A Prefeitura estaria interessada em ocupar uma área na Praça Benedito Calistro, entre as ruas Cardeal Arco-Verde e Teodoro Sampaio, no bairro do Pinheiros, região que se desenvolveu o Lira Paulistano, que mais do que um teatro, foi um núcleo cultural, do qual resultaram vários grupos e compositores-intérpretes (Premeditando o Breque, Rumo, Ermeliando Nader, Arrigo Barnabé, Itamar Assunpção etc.) que chegaram até a criar um selo alternativo (depois absorvido pela Continental, mas hoje desativado). Wilson Couto o "Gordo" era um dos líderes do Lira Paulistano (hoje ele atua como produtor fonográfico, tendo deixado há pouco a Continental) e o jornalista Fernando Alexandre, de ligações curitibanas (aqui morou por muitos anos) foi o editor do "Jornal do Lira".
Portanto, tradição cultural no bairro existe. Falta um espaço, pois o Lira Paulistano acabou fechando. Assim, a idéia de na Praça Benedito Calistro se erguer um Teatro Barracão, com patrocínio do Banestado (que ali terá um excelente painel promocional) e que poderá servir também de stand permanente do turismo paranaense, é um projeto válido em termos de investimento.
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Para que o projeto se concretize, obviamente, terão que serem solucionados alguns problemas. De princípio, a própria Prefeitura de São Paulo enfrenta alguma resistência, de parte de lideranças peemedebistas que atuam no bairro. Foi proposto um plebiscito a ser realizado nos próximos dias, consultando-se a população de Pinheiros se deve ou não ser feito um convênio entre as administrações Prefeitura/Governo do Paraná para que a cidade ganhe um novo teatro.
Da parte local, também há que se equacionar bem o projeto - pois sempre haverá os oposicionistas. Mas a idéia foi levantada e comprova que o projeto Barracão e, afinal, mais uma realização que deu certo.
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